terça-feira, 17 de março de 2009

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Paixão condenada
Livro inédito de procuradora de justiça, antecipado com exclusividade por Gente, radiografa os 14 crimes passionais mais famosos do País, cria polêmica entre parentes das vítimas e conclui que o que motiva crime passional é a relação de poder do assassino com a vítima

Juliana Lopes;
Colaborou Luís Edmundo Araújo



A procuradora Luiza Nagib Eluf levou três anos para concluir livro e foi contestada por Glória Perez, mãe de Daniella Perez, assassinada em 1992: “O crime envolvendo minha filha não foi passional”, diz a autora de novelas
“Matei por amor.” A frase saiu, dramática, da boca do paulista Raul Fernandes do Amaral Street, o Doca Street, e foi dita à imprensa. Horas depois de um julgamento e sob aplausos, Doca caminhou sem culpa pelo chão de um tribunal de Cabo Frio (RJ), em 1979. Fora absolvido do assassinato da namorada Ângela Diniz, com três tiros no rosto e um na nuca. Dois anos depois, a promotoria recorreu e o slogan “quem ama não mata”, repetido à exaustão por militantes feministas que acompanhavam o segundo julgamento, foi decisivo para a vitória contra a impunidade. Em decisão histórica, transmitida pela tevê, Doca foi para a cadeia. Desde então, os crimes passionais passaram a ser julgados com um olhar menos machista. Em seu primeiro julgamento, Doca alegou “legítima defesa da honra”, por sentir-se traído pela companheira. Como ele, até meados do século passado, criminosos foram absolvidos baseando-se nesse argumento, pelo qual o homem podia ser perdoado por executar a mulher adúltera. O pai da atriz Maitê Proença, que matou a esposa, Margot Proença, valeu-se da mesma idéia machista para ser absolvido.

A história de Doca Street e a do pai de Maitê foram pesquisadas pela procuradora de Justiça do Ministério Público de São Paulo Luiza Nagib Eluf. Em três anos, ela levantou os 14 crimes passionais mais famosos do País e os reúne no livro Paixão no Banco dos Réus, que será lançado em 10 de junho pela Editora Saraiva. “A paixão que denota o crime passional é crônica, obsessiva e nada tem a ver com amor”, diz ela. “Pode ter havido amor em algum momento, mas o que mata é o ódio, o ciúme doentio, a possessividade, a sensação de poder em relação à vítima.”

Antes de chegar às livrarias a obra, antecipada com exclusividade por Gente, já causa polêmica. A escritora Glória Perez, mãe da atriz Daniella Perez, morta em 1992, com 18 facadas dadas pelo ator Guilherme de Pádua – que contracenava com Daniella e cujo personagem era apaixonado pelo de Daniella – e a então mulher dele, Paula Thomaz, diz que o crime contra sua filha não é passional, como foi citado no livro. “Crime passional é cometido sob violenta emoção. Nesse caso, no dia do crime, o assassino estava gravando e perguntou ao produtor que espaço de tempo teria entre um cenário e outro”, diz Glória. “Depois, busca a mulher em casa, a esconde sob um lençol, adultera a placa do carro, espera Daniella na saída do estúdio e a embosca num posto de gasolina. Quer dizer: preparou-se o dia todo para ter um descontrole com hora marcada?”

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